Vitor Castro
Estudante do curso de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Tocantins
Hoje, terça-feira (15/12), acontece a “eleição” para a nova diretoria do DCE UFT, que há mais de 9 meses estava em vacância. Os estudantes da UFT, no entanto, se deparam com uma situação inusitada: só há uma chapa “concorrendo” ao pleito.
Como isso é possível?
Como uma universidade federal, com 7 campi, mais de 50 cursos e 18 mil estudantes matriculados, não tem outros 12 nomes para apresentar nessa eleição?
O que está por trás dessa tal “Unidade” que a chapa única tanto fala?
Vamos analisar à fundo essas questões, e saber até aonde vai essa “Novidade”.
O CEB
O Conselho de Entidades de Base (CEB), é a reunião de todos os Centros e Diretórios Acadêmicos (CAs e DAs) da UFT e é o responsável por convocar a eleição do DCE. Segundo o estatuto do DCE, deveria ser realizado duas vezes ao ano, garantindo ampla discussão acerca da universidade e do movimento estudantil. No entanto, o que vemos é um CEB mecânico, feito por mera formalidade, e predeterminado por acordos partidários, antes mesmo de acontecer.
A maioria dos CAs e DAs já chegam loteados e com voto “amarrado”. Os poucos que não o são, ou são pressionados a ceder no momento das votações, ou são subornados ou simplesmente atropelados pelos partidos que comandam o CEB.
Nesse último CEB, em particular, uma aliança entre PT, PSDB, PSB, Democratas e PCdoB, foi a “vencedora”. No acordo, constavam as cadeiras referentes aos conselhos superiores da UFT (CONSEPE e CONSUNI), além da comissão eleitoral do DCE, que foi indicada totalmente pelo PSB.
Destaque para as entidades FRAUDADAS que estão em vacância há muito tempo, e mesmo assim, votaram durante o CEB, como o CA de História do campus de Porto Nacional, que foi apresentado pela juventude do PCdoB, por exemplo.
A COMISSÃO ELEITORAL
A Comissão Eleitoral (CE) foi eleita no CEB com um único intuito: garantir ao PSB e seus aliados, vantagens durante o período eleitoral.
Não é verdade, por exemplo, que só uma chapa tentou se inscrever. Estudantes do campus de Arraias, tentaram inscrever chapa, mas segundo eles, não foram atendidos por nenhum membro da tal CE. Esses não tem destaque político suficiente para fazer frente ao grupo hegemônico, e por tanto teriam sido simplesmente ignorados do processo.
Outras várias irregularidades podem ser observadas, como o fato de não haverem divulgado as inscrições de chapa nos murais dos campi e a divulgação da chapa inscrita tenha acontecido só 6 dias depois de encerrado o prazo de inscrição, quando o regimento garante que tal divulgação deve acontecer em, no máximo, 24 horas após a inscrição da chapa.
No CEB também foi aprovado que a comissão eleitoral ficaria responsável por apresentar denúncia no Ministério Público contra a última gestão do DCE, por essa não ter comparecido ao CEB para prestar contas da gestão, como manda o estatuto da entidade. Isso só não aconteceu porque, na prática, a Comissão Eleitoral é a gestão anterior do DCE UFT.
Se ainda resta alguma dúvida sobre a parcialidade da CE, como explicar que em pleno dia de eleição, a presidenta da tal chapa única, veio ao grupo da UFT no Facebook, PEDIR VOTOS, quando o regimento proíbe isso absolutamente, e a CE que é administradora do grupo, nem se quer se pronuncia?
Uma palavra: Encenação.
A CHAPA
Falar do histórico completo das tendências políticas que compõe essa chapa iria levar muito tempo. Deixemos para um próximo artigo. Em vez disso, vamos falar sobre a história recente dessa estapafúrdia aliança.
A gestão anterior do DCE UFT, era regida por expoentes políticos do PSDB, Democratas, PSB, PV, PSD, PMDB e Solidariedade. A chapa mais “forte” que concorreu contra esses era formada por PT, PCdoB e PP.
Os dois lados colecionam malfeitos. O grupo majoritário que compunha a última gestão, protagonizou o “golpe da UEE” que sepultou a União Estadual dos Estudantes do Tocantins em 2012, além de ser responsável pelas piores gestões desse DCE, que por eles é dirigido há mais de 3 anos. Do outro lado, estão aqueles que em Abril desse ano, fraudaram a ata do DCE da UFT no Conselho Nacional de Entidades Gerais (Coneg da UNE), apresentado-se como “gestão vigente”, enquanto o DCE jazia em vacância há mais de 2 meses. Juntos, “elegeram” 18 delegados em nome dos estudantes da UFT, para representá-los no Congresso da UNE (CONUNE) que aconteceu no começo de Junho.
Se colocaram como opositores uns dos outros, até a chegada do CEB, quando a aliança PSDB, PT, PSB, Democratas e PCdoB foi oficialmente formada. Partidos como o PP, apoiam a chapa, mas sem representatividade nos cargos.
É importante lembrar, que essa aliança só foi possível graças ao prefeito de Palmas, Carlos Amastha, ter mudado de partido, do PP para o PSB. O PSB, partido do nosso ex-reitor, Alan Barbiero, era a espinha dorsal da última gestão do DCE, enquanto a prefeitura de Palmas era, politicamente, “madrinha” da oposição. Com a mudança de partido, a prefeitura unificou os campos políticos do movimento estudantil da UFT, já de olho na reeleição no ano que vem.
Mas nem todos da chapa participam dos acordos de bastidor. Existem sim 2 ou 3 componentes da chapa oficial, que nem sequer sabem “quem é quem” nesse grupo. Destaco o estudante Rafael, do curso de Medicina, que sempre se mostrou muito coerente. Mas vale considerar que, o problema dos grupos ruins não são as pessoas ruins que neles estão, e sim as pessoas boas que os apoiam à fazer o mal…
POR QUE AGORA?
O DCE estava em vacância desde fevereiro. A gestão anterior, como diz o estatuto, tinha a obrigação de convocar o CEB para que novas eleições fossem realizadas, e não o fez. A “oposição” poderia ter chamado o CEB com maioria de CAs ativos, mas também não o fez.
Por que então essa “eleição em tempo recorde” agora?
Simples: eleições municipais de 2016.
Se a eleição acontecesse em Março ou Abril, como deveria, entraria em vacância novamente em maio do ano que vem, exigindo um novo “esforço” dos partidos para uma outra eleição de DCE.
No próximo ano, enquanto prefeitos e vereadores se digladiarem por votos na TV, rádio, nas redes sociais e nas ruas, o DCE virará palanque eleitoral para vários deles. A prefeitura de Palmas será a mais “aclamada” pela nossa “coerente” entidade. Há ainda aqueles que irão se candidatar à vereador, e já contam com a UFT como curral eleitoral.
Não vamos nos esquecer também que em Abril do ano que vem, teremos a eleição de reitor da UFT. Embora a candidata à presidenta não seja aquela que a reitoria queria (porque o candidato “preferido” se ausentou da chapa por razões pessoais), essa chapa casa perfeitamente com os interesses reitoristas.
Teremos a gestão mais atrelada à administração da história da UFT.
Vale até pensar em mudar o nome da entidade de DCE para DCR (Diretório Central da Reitoria). Creio que só não o fazem porque é muito importante manter as aparências.
Mais do mesmo, mas dessa vez, pior!
Acabou-se o pudor de fingir que o que importa não são os cargos, vantagens e apoios partidários externos advindos do DCE.
Estamos “fodidos e mal pagos”, como diz um professor do colegiado de Arquitetura.
E os culpados? São os alunos sim, mas não só eles. Concorrer contra um aparato gerado por reitoria, deputados e prefeituras é quase impossível para o “estudante comum”.
Mas é verdade também que, enquanto os estudantes independentes não se atentarem ao processo, estamos fadados a vê-lo se repetir.